A Psicologia Financeira
O sucesso financeiro tem muito mais a ver com comportamento do que com inteligência.

Nome | A Psicologia Financeira: lições atemporais sobre fortuna, ganância e felicidade |
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Autor(es) | Morgan Housel |
Editora | Harper Collins |
Ano da edição | 2021 |
A grande ideia por trás de “A Psicologia Financeira”, de Morgan Housel, é que o sucesso financeiro tem muito mais a ver com comportamento do que com inteligência. Assim, pessoas geniais em suas áreas de atuação podem ter grandes problemas financeiros, e pessoas comuns sem qualquer educação financeira podem alcançar a riqueza. Este último caso é exemplificado por Morgan Housel com a história de Ronald James Read, um faxineiro e frentista que acumulou mais de 8 milhões de dólares até sua morte. A história oposta, é de Richard Fuscone, um executivo super respeitado e bem sucedido que perdeu tudo com a crise de 2008, e um empréstimo milionário para expandir sua mirabolante mansão.
Ronald Read era paciente; Richard Fuscone, ganancioso. Isso foi o suficiente para que a enorme diferença entre a formação e a experiência deles se tornasse irrelevante. A lição aqui não é “seja mais como Ronald e menos como Richard” – embora esse não seja um conselho ruim. O que é fascinante em relação a essas histórias é o quanto elas são exclusivas do mercado financeiro. Em que outro setor alguém sem diploma universitário, sem treinamento, sem experiência formal e sem conexões supera enormemente alguém com a melhor educação, o melhor treinamento e as melhores conexões? Não consigo pensar em nenhum.
O fato de que Ronald Read e Richard Fuscone possam coexistir tem duas explicações possíveis. Uma diz que os resultados financeiros são orientados pela sorte, independentemente de inteligência e esforço. Isso é verdade até certo ponto, e este livro vai tratar do assunto com maior profundidade. A outra (que acredito ser mais comum) diz que o sucesso financeiro não é uma habilidade técnica. É uma habilidade pessoal, na qual o seu comportamento é mais importante que o seu conhecimento.
A Psicologia Financeira é dividida em 20 capítulos, e em 18 deles, Housel descreve as características mais importantes e, muitas vezes, contraintuitivas da psicologia financeira.
Ninguém é maluco
Neste capítulo, Morgan Housel explora a ideia de que cada um de nós tem um conjunto de pontos de vista, que variam muito de pessoa para pessoa. Logo, o que faz sentido pra uma pessoa, de acordo com sua criação, histórico de vida, experiência, podem não fazer nenhum sentido para outra pessoa. As decisões mais importantes sobre investimentos são tomadas, majoritariamente, em função das nossas experiências de vida.
Toda decisão financeira que uma pessoa toma é fruto da informação que ela tem à disposição no momento, associada ao seu modelo mental único sobre a forma como o mundo funciona.
Sorte e risco
Aqui o autor trata dos elementos sorte e risco, como fundamentais no sucesso financeiro. Como é muito difícil mensurar o efeito da sorte ou do risco, temos dificuldades de aceitar a sorte como grande responsável pelo sucesso, e o papel do risco como fundamental em nosso fracasso. É importante termos essa percepção até para nos perdoamos e sermos mais compreensíveis conosco mesmo, em relação aos fracassos que acumulamos. Esta parte de A Psicologia Financeira lembra muito o livro Iludidos pelo Acaso, de Nassim Taleb.
Nada é tão bom ou tão ruim quanto parece.
Nada é o suficiente
Para grande parte da população mais rica do mundo, parece não existir limites. As metas são sempre aumentadas. Não há noção do suficiente. Nestes casos, a ambição cresce mais do que a própria satisfação pelo bom resultado, o que desvirtua a lógica do sucesso. Assim, passa a não existir sentido em correr atrás de algo, porque no fim, o sentimento vai ser sempre o mesmo, de estar ficando para trás, o que vai nos levar a correr cada vez mais riscos para ter resultados ainda maiores.
O capitalismo moderno é ótimo em fazer duas coisas: gerar riqueza e gerar inveja. Talvez elas andem de mãos dadas; querer superar seus pares pode ser o combustível para se esforçar mais. No entanto, a vida não é nada divertida sem um senso de suficiência. A felicidade, como se diz, é o que sobra dos resultados depois de subtraídas as nossas expectativas.
Compostos e confusos
Neste capítulo de A Psicologia Financeira, Housel explora a contraituitividade da composição, isto é, ter consistência nos investimentos, por exemplo, é o grande segredo do enriquecimento dos investidores do mercado financeiro, o que demanda disciplina e paciência. Temos, porém, muita dificuldade e resistência em entender esse processo. Tendemos a acreditar que o mais importante ao investirmos, é o alto retorno. Acontece que os retornos mais altos são os mais raros de acontecer e não se sustentam no tempo. Logo, a diferença está em conquistar bons retornos de forma consistente, ao longo do tempo.
Ficar rico versus continuar rico
Em uma espécie de complemento à questão da composição, do capítulo anterior, este capítulo de A Psicologia Financeira continua tratando da importância de ser consistente, através da mentalidade da sobrevivência, que seria o entendimento de que manter o dinheiro é ainda mais desafiador do que ganhar dinheiro.
O autor traz histórias de investidores que ganharam muito em pouco tempo, e acabaram indo à bancarrota pouco tempo depois, inclusive com finais trágicos. Logo, saber ganhar dinheiro e saber mantê-lo são duas competências distintas. O primeiro requer exposição a riscos, otimismo, o segundo requer justamente o contrário: medo de perder, humildade, aceitação da influência da sorte.
Devagar e sempre
Os eventos de cauda, ou seja, os eventos mais raros, normalmente são os responsáveis pelo ponto da virada. A maior parte das nossas decisões serão erradas e ruins, mas algumas delas serão acertadas, e são esses pequenos acertos que farão a grande diferença. O resultado expressivo de uma carteira de investimentos geralmente provêm de uma minoria dos ativos. A grande maioria deles têm um desempenho ruim ou mediano. O autor traz inúmeros exemplos no mundo dos negócios e das finanças que exemplificam o poder da cauda.
O que importa não é estar certo ou errado, disse George Soros certa vez, mas o quanto de dinheiro você ganha quando está certo e o quanto você perde quando está errado. Você pode estar errado metade das vezes, e, ainda assim, ficar milionário.
Liberdade
A liberdade de se fazer o que se quer, quando se quer, onde se quer, é o maior dividendo que o dinheiro pode pagar. Esta é a ideia defendida pelo autor aqui. Este seria um denominador comum no conceito de felicidade das pessoas. Acontece que hoje nossos empregos são focados no uso das nossas mentes, ao invés das mãos. Assim, saímos do trabalho para casa, mas o trabalho não sai da nossa cabeça. Acabamos gastando uma parte muito maior do nosso tempo pessoal, para lidar com questões do trabalho. O controle sobre o tempo decaiu. Logo, no caso dos Estados Unidos, por exemplo, as pessoas estão, em média, mais ricas do que antigamente, mas menos felizes.
O paradoxo do dono do carro
Este capítulo de A Psicologia Financeira é uma introdução ao capítulo seguinte, e traz apenas a reflexão de que as pessoas, ao verem alguém chegando em um carrão de luxo, nunca reparam no proprietário do veículo, e sim, no próprio carro. No entanto, o dono daquele carro o comprou achando que com esta aquisição, conseguiria conquistar o respeito e a admiração das pessoas. Estas, no fim, só estão interessadas na grandiosidade do objeto, em si. Aí está um belo paradoxo. Nós desejamos ter um carro de luxo para alcançar respeito e admiração das pessoas. Estes adjetivos, no entanto, são conquistados por outras formas, que não a ostentação de objetos caros.
Fortuna é aquilo que você não vê
A única certeza que podemos ter ao ver uma pessoa com um carro de 100 mil dólares, é que aquela pessoa tem 100 mil dólares a menos em sua conta. A fortuna está naquilo que não vemos. São os carros de luxo não comprados, as mansões não construídas. A única forma de acumular fortuna é não gastando o dinheiro que se tem. O autor ressalta que é preciso separar os conceitos de fortuna e riqueza. Alguém que ande em um carro de 100 mil dólares, com certeza é rico, pois a própria prestação demanda uma renda considerável. Mas não, necessariamente, esta mesma pessoa possui uma fortuna.
A fortuna é algo escondido. O grande problema é que temos muitos exemplos de riqueza para seguirmos, mas poucos exemplos de fortuna. E o que a grande maioria de nós procura, na essência, é a fortuna. A capacidade de proporcionar opção, flexibilidade, crescimento, para comprar mais coisas no futuro, do que podemos comprar hoje.
O mundo está cheio de pessoas que parecem modestas, mas que, na verdade, possuem fortunas, e de pessoas que parecem ricas, mas que vivem no fio da navalha. Tenha isso em mente ao julgar precipitadamente o sucesso dos outros e ao definir os seus objetivos.
Guarde dinheiro
Segundo o autor de A Psicologia Financeira, as pessoas precisam ser convencidas a guardar dinheiro. A partir de um determinado nível de renda, nos encaixamos em 3 possíveis grupos: os que guardam dinheiro; os que acham que não conseguem fazer isso; e os que acham que não precisam fazer isso.
O grande foco discutido por Housel é o padrão de vida ser menor do que os rendimentos, de forma que as pessoas possam guardar parte dele. Gastar além do necessário é uma clara demonstração do poder do ego em sua vida. Pois, basicamente, os gastos desnecessários visam mostrar às pessoas que você tem dinheiro. Pessoas bem sucedidas financeiramente no longo prazo, tendem a não se importar com a opinião alheia.
Housel ainda defende que não precisamos de objetivos específicos para guardar dinheiro. Este ato é, em si, uma forma de consolidarmos nosso autocontrole. Além disso, economizar proporciona flexibilidade, uma característica competitiva que supera a própria inteligência, no mundo atual. Isto é poder esperar o melhor momento, entrar nas melhores oportunidades.
Em um mundo onde a inteligência é hipercompetitiva e muitas habilidades técnicas anteriores se tornaram automatizadas, as vantagens competitivas tendem a ser habilidades comportamentais – como a comunicação, a empatia e, talvez acima de tudo, a flexibilidade.
Se você é flexível, pode esperar boas oportunidades tanto na carreira quanto nos investimentos. Você terá melhores chances de aprender uma nova habilidade quando for preciso. Não precisará disputar com concorrentes que sabem fazer coisas que você não sabe, e terá mais liberdade para descobrir a sua paixão e o seu nicho no seu tempo. Você pode desenvolver uma nova rotina, um ritmo mais lento, e olhar para a vida a partir de outros valores. A possibilidade de fazer tudo isso quando a maioria das pessoas não pode é um dos poucos diferenciais que existem em um mundo onde a inteligência não é mais uma vantagem palpável.
Ter maior controle sobre o próprio tempo e suas opções está se tornando uma das coisas mais valiosas do mundo. É por isso que mais pessoas podem, e devem, guardar dinheiro.
Razoável > Racional
Housel defende a ideia de que nossas decisões financeiras devem ser tomadas com razoabilidade ao invés de racionalidade. O autor resume bem isso ao dizer que, no mundo dos investimentos, as instituições buscam por estratégias de investimento ideais em termos matemáticos. No entanto, as pessoas não querem as estratégias matematicamente ideais. Elas querem estratégias que melhorem seu bem estar, que a façam dormir tranquilas.
Um investidor racional decide a partir dos números. Um investidor razoável decide em uma sala de reunião, repleta de pessoas, colegas que o admiram, com um cônjuge a quem não quer decepcionar, sendo comparado ao cunhado e ao vizinho, além de confrontado pelas próprias inseguranças. Ser razoável é ser, no fim das contas, mais humano. Nós não somos planilhas eletrônicas.
Surpresa
Este capítulo de A Psicologia Financeira trata das quebras de padrões históricos. Muitas vezes a história é usada como guia para tomada de decisões. Acreditamos que os padrões históricos se manterão pra sempre, sem nos darmos conta de que algo inédito sempre ocorre no mundo, o tempo todo.
Pessoas como Hitler, Stalin, Mao Tse Tung, Gavrilo Princip, Thomas Edison, Bill Gates, Martin Luther King, nasceram em meio a quinze bilhões de pessoas, entre os séculos XIX e XX. Mas se, desses quinze bilhões de pessoas, apenas essas 7 não tivessem existido, tudo estaria diferente hoje. Desta forma e com mais exemplos interessantes, o autor demonstra que entender que o futuro pode não se parecer nada com o passado, é um tipo de habilidade fundamental nas finanças, e ainda pouco apreciada pela comunidade.
Margem para imprevistos
Você tem que ter um plano para quando o plano não estiver saindo de acordo com o plano. Iniciando com um exemplo bem interessante sobre o blackjack, Housel defende a ideia de que ter uma margem para imprevistos é a única forma eficaz de enfrentar um universo governado pela probabilidade, não pela certeza. É preciso assumir riscos para progredir, mas nunca a ponto dos riscos poderem te levar à falência.
Você vai mudar
Apresentando dados como, apenas 27% das pessoas com diploma universitário trabalham em algo relacionado à sua graduação, o autor nos lembra que tudo mudo ao longo da vida, inclusive nossos objetivos e desejos. Assim, devemos evitar os extremos do planejamento financeiro, como nos abdicarmos de alguns prazeres da vida apenas para economizarmos para o futuro, ou nos enchermos de trabalho para faturarmos o máximo possível; e aceitar o fato de que nossa cabeça muda, assim, devemos estar preparados para tomar providências rápidas, quando sentimos a necessidade de mudar.
Segundo Housel, devemos entender que não existem custos irrecuperáveis. Manter-se fiel a metas financeiras quando você era uma pessoa diferente, há vários anos atrás, é se tornar-se prisioneiro do seu passado.
Nada é de graça
Tudo tem um preço, mas temos muita dificuldade em enxergamos os custos embutidos no sucesso de alguém. No caso do sucesso financeiro, esse custo está relacionado a volatilidade, incertezas, medo, arrependimentos. Esse custo, muitos de nós não aceitamos pagar, o que nos afasta do sucesso financeiro. Isto acontece, geralmente, porque sequer enxergamos esse preço a pagar. É muito mais fácil identificarmos o custo de bens materiais, mas com investimentos é bem diferente. Descubra qual é o preço e disponha-se a pagá-lo.
Você e eu
As bolhas financeiras são tidas como acontecimentos derivados da ganância das pessoas. Segundo Housel, porém, culpar a ganância, nestes casos, é ignorar lições importantes sobre a racionalidade em nossas decisões. Estas acontecem, frequentemente, por aceitarmos sugestões de outros investidores que estão jogando um jogo diferente do nosso.
Quando investidores têm objetivos e horizontes de tempo diferentes – e isso existe em todas as classes de ativos -, preços que parecem absurdos para uma pessoa podem fazer sentido para outra, porque os fatores aos quais esses investidores prestam atenção são diferentes.
No caso das bolhas, estas se tornam problemáticas quando investidores de longo prazo começam a seguir sugestões dos investidores de curto prazo. Cada um, jogando um jogo completamente diferente. Para tomarmos boas decisões de investimento, é fundamental entendermos qual jogo nós estamos jogando.
A sedução do pessimismo
O pessimismo nos parece mais esperto, nos cativa, e é recebido com mais atenção do que o otimismo. Por isso a indústria de conteúdo sobre investimentos está sempre repleta de “profetas da desgraça”, segundo o autor. A grande lição deste capítulo de A Psicologia Financeira é que precisamos procurar saber quais são as razões do pessimismo, antes de assumirmos essa postura, pois ela pode nos levar a não aproveitar boas oportunidades que batem a nossa porta.
O grande exemplo trazido aqui é o da invenção do avião. À época, a mídia não deu muita importância ao evento, os especialistas acreditavam que nunca haveriam aviões de carga, por exemplo. Aqueles que viveram essa grande revolução proporcionada pelo avião, não davam o devido valor e ainda o menosprezavam. Muitos poderiam ter surfado de alguma forma nessa onda, aproveitado oportunidades, mas preferiram se ater ao pessimismo.
Quando você acaba acreditando em qualquer coisa
Neste capítulo de A Psicologia Financeira, somos apresentados a uma reflexão muito interessante, de que as narrativas são uma força poderosíssima na economia. Isso é fácil de exemplificar e entender. Quanto mais desejamos que algo seja verdade, maior a nossa tendência a acreditar nas histórias que fortalecem essa possibilidade. Housel denomina isso de ficção encantadora.
Investir é um dos únicos campos que oferece oportunidades diárias de recompensas extraordinárias. As pessoas acreditam no charlatanismo financeiro de uma forma que jamais acreditariam, digamos, no charlatanismo meteorológico, porque as recompensas por prever corretamente o que acontecerá no mercado de ações, na semana seguinte, fazem parte de um universo diferente daquele das recompensas por prever se os dias estarão ensolarados ou chuvosos, na semana seguinte.
Nós sentimos a necessidade de acreditar que estamos em um mundo controlado e previsível, por isso damos tanta atenção a especialistas ou autoridades que parecem poder satisfazer essa necessidade. Acontece que negócios, economia e investimentos são campos ligados predominantemente pela incerteza, não podendo ser explicados ou previstos por matemática.
Pós-Escrito
Nesta parte final do livro, o autor traz uma reflexão muito interessante sobre o comportamento do consumidor americano, especialmente no período pós guerra até os dias atuais. No pós guerra, os Estados Unidos cresceram consideravelmente, e todas as classes sociais puderam participar deste, em proporções bem parecidas. Tempos depois, os americanos, mal acostumados com a igualdade de condições, se esforçaram para manter o status quo, isto é, os mais pobres tentaram manter um padrão de vida próximo ao dos mais ricos, pois haviam vivenciado isso por muito tempo. Acabaram, então, se desfazendo de economias e se endividando, enquanto o panorama moderno tendia ao crescimento da desigualdade social, como está hoje.
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